Aprenda estratégias essenciais para mitigar riscos na Descoberta de Produtos e garanta o sucesso do seu produto como Product Owner. Confira técnicas e frameworks eficazes!
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A Descoberta de Produto, ou Discovery de Produtos, é uma etapa de grande valor para pessoas que trabalham na área de software. O processo visa entender as necessidades e os problemas enfrentados pelos usuários, para que sejam criados produtos que realmente agreguem valor ao negócio.
O Product Owner (PO) tem um papel fundamental no processo da descoberta do produto, pois ele será responsável em criar o elo entre as partes interessadas, assegurando que todos estejam alinhados quanto às prioridades e aos objetivos do produto. Também possui a função de facilitador, sempre buscando promover a colaboração e o entendimento em relação às necessidades dos usuários e as prioridades do negócio.
Neste artigo, vamos apresentar estratégias e práticas que o PO pode estar aplicando durante a Descoberta de Produto, visando melhores resultados e a mitigação de riscos.
Conteúdo
MostrarOcultar- Apaixone-se pelo problema e não pela solução
- A descoberta de produtos e suas etapas
- Como encontrar e definir o problema: frameworks de descoberta de produto
- Análise de Mercado
- Validação de ideias e identificação de riscos
- A importância do MVP (Minimum Viable Product)
- Gerenciamento de riscos em desenvolvimento de produtos
- Conclusão
Apaixone-se pelo problema e não pela solução
Durante o processo de Descoberta do Produto, um dos maiores riscos que pode comprometer o sucesso de seus resultados, é a tendência que muitos times de produto tem em focar demais em uma solução pré-concebida, antes de entender completamente o problema que se pretende resolver.
Quando é decidida a solução antes do entendimento profundo do problema, existe uma alta probabilidade de que sejam criadas funcionalidades que, em alguns casos, não agregam valor algum para o público alvo. Dependendo do investimento financeiro e do esforço dedicados, as consequências podem impactar a viabilidade da operação.
Uri Levine, autor do livro “Apaixone-se pelo problema, não pela solução”, destaca este ponto ao afirmar: “Se você se apaixonar pela solução, corre o risco de não ver o verdadeiro problema, e assim a solução pode se transformar em um desperdício de tempo e recursos”. Nesse trecho, o autor reforça a importância em dedicar tempo e esforço para entender o problema em sua totalidade antes de começar a desenvolver soluções, mitigando riscos de não atender as demandas de mercado que estão sendo exploradas.
Imagine, por exemplo, que uma startup desenvolve um assistente virtual web para produtores rurais, sem ir a fundo na necessidade relacionada. Após o lançamento do produto, observa-se que não houve adesão do público-alvo, nem performance de vendas. Após essa constatação, o PO investiga os possíveis problemas, e descobre que a interface é pouco intuitiva, os processos de utilização do sistema são complexos e extensos, inviabilizando seu uso para os fins imaginados.
Ao focar primeiramente no desenvolvimento da solução, sem o devido estudo do perfil do usuário e dos processos que essa solução atenderia, a empresa investiu uma grande quantidade de tempo e recursos para criar uma “solução final”, inviável. Podendo comprometer a operação, e também levando frustração a toda a equipe que criou algo que não agregou valor como imaginavam.
Nesse cenário, a abordagem de algumas etapas da Descoberta de Produto, teriam ajudado a minimizar as perdas finais. Também, poderiam evidenciar oportunidade valiosa para outras soluções viáveis. Além de gerar conhecimento de mercado, que podem ser direcionados em ações estratégicas de posicionamento de marca.
A descoberta de produtos e suas etapas
A Descoberta de Produto é um processo que identifica e avalia as necessidades do usuário, entendendo seu contexto e desejos, para a partir disso explorar possíveis soluções. O Discovery é realizado para reduzir riscos e incertezas antes da criação, incluindo várias etapas, dentre elas:
- Definição do problema: Qual a dor do cliente que o produto irá aliviar? É fundamental ir além das necessidades superficiais e identificar as causas raiz dos problemas enfrentados pelos usuários.
- Análise de mercado: Compreender quem são os clientes ideais, suas características, comportamentos e expectativas, além de analisar a concorrência e as soluções que eles oferecem.
- Validação de ideias: Utilizar pesquisas, entrevistas, testes, protótipos e POCs (Provas de Conceito) para confirmar se as ideias iniciais são relevantes e viáveis para o público-alvo.
- Definição do MVP (Minimum Viable Product): Determinar o menor conjunto de funcionalidades que entregará valor ao cliente e permitirá coletar feedback.
- Gerenciamento de riscos: Assegurado o Sucesso do Produto Identificar e mitigar os riscos associados ao desenvolvimento do produto, garantindo que o projeto avance com maior segurança e menores chances de falhas.
Encontrar o elo entre o produto e o mercado é essencial, e isso só é possível quando testamos nossas suposições e aprendemos com os usuários. Este é um processo contínuo, que ajuda a construir produtos com maior potencial de sucesso.
Como encontrar e definir o problema: frameworks de descoberta de produto
Existem diversas metodologias que ajudam o Product Owner a estruturar e conduzir o processo de Descoberta de Produto. São frameworks que ajudam as equipes a identificar os problemas e definir de forma mais clara suas estratégias, antes de avançar para a etapa de desenvolvimento da solução. Trouxemos algumas delas de forma sucinta, abaixo:
Matriz CSD
A Matriz CSD, é um Framework muito utilizado em etapas de planejamento de projetos, pois
possibilita organizar de forma mais clara o que se tem maior conhecimento e o que deve ser compreendido melhor. Além disso, traz maior alinhamento entre o time, devido o troca de conhecimento entre os membros
A aplicação da Matriz CSD, pode ser feita com um modelo visual e simplificado, onde os membros do time deverão listar e classificar suas certezas, suposições e dúvidas. Para que uma informação seja classificada como uma “certeza”, é importante que haja consenso entre no time sobre o ponto em questão. Assim como, quando existem muitas opiniões divergentes sobre um item, ele deverá ser classificado como “suposições”, e como “dúvidas” informações das quais ainda não se sabe nada.
Design Thinking
O Design Thinking é um processo que utiliza métodos do design para buscar a compreensão aprofundada das necessidades do usuário e encontrar soluções inovadoras. Este processo segue cinco etapas: Empatia, Definição, Ideação, Prototipagem e Teste.
A etapa de Empatia é a fase inicial, pois busca entender as experiências e emoções dos público-alvo, reunindo informações essenciais para a definição das necessidades dos usuários e delimitar o problema a ser resolvido. Para esses levantamentos, podem ser aplicados questionários, entrevistas, pesquisas de mercado, testes controlados, dentre outros.
Na etapa de Definição, as informações coletadas na fase de Empatia são analisadas e sintetizadas para identificar os principais problemas e necessidades dos usuários. Esse processo ajuda a criar o foco que será desenvolvido nas etapas seguintes.
Com base nisso, serão levantadas as ideias e direcionadas para criar soluções, o que ocorre na Ideação, onde a equipe gera uma variedade de ideias e possíveis soluções, incentivando a criatividade e a exploração de diferentes abordagens. Após isso, as ideias são transformadas em versões tangíveis e simplificadas, ou seja, são criados Protótipos que permite à equipe visualizar e Testar as soluções em um ambiente controlado.
O teste deve envolver usuários, para que a solução seja ajustada e refinada, com base nos feedbacks. Esse processo deve ocorrer até que a visão da solução final atenda de forma eficaz às necessidades identificadas.
Jobs to be done (JTBD)
Um framework que foca em entender as tarefas que os usuários querem realizar, observando as necessidades e motivações da pessoa ao querer executar a ação, em vez de se concentrar apenas nas características do produto.
Para aplicar o JTBD, após identificar a tarefa que o usuário deseja completar, segmente essas tarefas em categorias funcionais, emocionais e sociais. Em seguida, analise as dificuldades e benefícios associados. Para isso, podem ser usados modelos práticos como o JTBD Canvas, o JTBD Interview Guide, e o Job Map.
A escrita de um job to be done ajuda a compreender a ação e o contexto em que a dor está incluída. Usando a estrutura de: “verbo de ação + objeto de ação + contexto”, será possível visualizar com mais clareza a necessidade. Por exemplo, considere que uma pessoa precisa gerenciar suas finanças pessoais, onde sua dor principal é a dificuldade em conseguir unificar suas despesas e receitas diárias de diferentes fontes. Usando o framework, temos:
“Gerenciar + Finanças + De múltiplas fontes”
Assim, a tarefa é manter o controle financeiro onde seja possível centralizar informações de diferentes fontes. Existem várias plataformas para controle manual, mas a pessoa tem dificuldade em unificar as diferentes fontes (Essas informações precisam ser extraídas e sincronizadas automaticamente?) Ao identificar e segmentar essas tarefas, é possível focar no que a pessoa deseja realizar, e refinar soluções que abordam diretamente o problema.
Todos os frameworks citados acima podem ser aplicados de forma individual, ou em grupo, com colaboração do time envolvido no projeto. A dinâmica pode ser realizada presencial, com auxílio de um quadro e post-its, ou online, por meio de plataformas online para grupos como: Trello, Miro, Mural e Figma Jam.
Análise de Mercado
A pesquisa de mercado é crucial para a descoberta de produtos. De acordo com um estudo da CB Insights, 42% das startups falham porque não há demanda para seu produto. Então, por mais que algumas empresas desenvolvam produtos tecnicamente bons, estes não resolvem problemas significativos para um número suficiente de clientes que sustente o crescimento e o sucesso comercial. Validar a demanda de mercado, antes de iniciar a construção de uma solução é uma prática muito incentivada em times de produto.
Alguns times buscam realizar entrevistas e pesquisas em sua base de clientes ou utilizando grupos focais. Outra alternativa utilizada é o uso de plataformas online de pesquisas de padrões de comportamento, como: Google Trends, Neilpatel e SurveyMonkey. Muitos dos dados coletados podem ser compilados e apresentados ao time de produto por meio de mapas de empatia e construção de personas.
Com base nos dados obtidos da pesquisa de mercado, o PO pode priorizar features que trarão maior valor ao produto, atendendo tanto às necessidades do cliente quanto às metas de negócio. O PO também usa os resultados da pesquisa de mercado para comunicar os avanços e descobertas para os stakeholders, justificando decisões de produto e ajustando expectativas em relação ao roadmap.
Validação de ideias e identificação de riscos
Existem diversas estratégias de produto que podem auxiliar os POs no processo de validação de ideias. Nessa etapa, o PO atua como um facilitador e guia, utilizando apresentações, protótipos e Provas de Conceito (POCs) como ferramentas para reduzir incertezas e validar hipóteses de forma rápida e eficiente, antes de iniciar a construção de estruturas funcionais mais elaboradas.
Um protótipo, por exemplo, é uma representação visual ou funcional simplificada de um produto, que pode variar de um esboço no papel a uma simulação interativa. Ele permite que a equipe de desenvolvimento e stakeholders vejam e interajam com o conceito inicial, o que fomenta a discussão sobre a solução proposta, além de facilitar a identificação de problemas de usabilidade, design ou funcionalidade.
Já a POC, está atrelada a um experimento mais técnico. Seu principal objetivo é testar a viabilidade de uma ideia ou tecnologia específica, verificando se a implementação é viável, conforme imaginado. Por exemplo, uma POC pode testar a capacidade de integração de uma nova API com sistemas existentes. Ou então, pode executar uma nova automação, otimizando um fluxo dentro de um sistema. Esses métodos garantem que seja construindo algo viável.
Escolher uma alternativa para validar suas ideias é fundamental para reduzir riscos e orientar o futuro desenvolvimento do produto. O PO é o responsável por orientar o processo de validação e garantir que a equipe esteja construindo algo que não apenas seja tecnicamente viável, mas também atenda às expectativas do mercado e dos usuários.
A importância do MVP (Minimum Viable Product)
O conceito de Minimum Viable Product (MVP) é fundamental no desenvolvimento de produtos, especialmente em ambientes de startups ou projetos de inovação, por ser uma versão mais simples e funcional de um produto, que tem como objetivo testar hipóteses e aprender com a experiência do usuário real.
No livro “The Lean Startup” de Eric Ries afirma que “O objetivo de um MVP não é construir um produto perfeito, mas sim obter feedback real dos usuários com o menor esforço possível”. Ries foi um dos responsáveis em popularizar o termo MVP e sempre buscou enfatizar que o MVP é uma versão muito básica do produto ou serviço que se deseja comercializar, que tem como principal objetivo reduzir riscos e validar hipóteses no mercado real.
Nesse processo, o Product Owner precisa garantir que a versão inicial do produto contenha as funcionalidades essenciais para validar as hipóteses de mercado e aprender com os usuários de forma eficiente, com o mínimo esforço e máximo aprendizado.
Esse processo reduz o risco de falhas, pois permite haja adequação do produto com base no uso dos usuários e feedbacks, minimizando investimentos em uma solução que não atenda às reais necessidades do público. Ao lançar um MVP, as equipes podem levantar informações e aprender rapidamente o que funciona e o que não vai funcionar para aquele objetivo.
Gerenciamento de riscos em desenvolvimento de produtos
Embora a descoberta de produtos e o gerenciamento de riscos sejam processos distintos, eles devem estar intimamente integrados para maximizar o sucesso do produto. Cada nova descoberta durante a fase de desenvolvimento pode introduzir novos riscos, e cada novo risco identificado pode exigir uma revisão da estratégia de produto.
As metodologias ágeis trabalham com o discovery e a gestão de risco de forma integrada. No Scrum, por exemplo, você executa atividades que devem ser desenvolvidas em sprints, ciclos curtos com feedbacks. No final da sprint, o time pode revisar as lições aprendidas e aplicar mudanças ao planejamento do próximo ciclo.
Nessa dinâmica do Scrum, o Product Owner tem um importante papel por ser responsável em identificar, mitigar e monitorar os riscos de forma contínua, utilizando a priorização do backlog de produto para que os riscos mais críticos sejam abordados logo nas primeiras etapas.
A gestão de risco realizada pelo PO, também pode ser executada pela constante adaptação do desenvolvimento, com base nos feedbacks dos MVPs e protótipos. Podendo ajustar prioridades ou pivotar a estratégia do produto, evitando que o time siga por um caminho de alto risco.
O PO também ajuda na comunicação desses riscos às partes interessadas. Ele é o responsável em manter a comunicação clara com os stakeholders, garantindo que estejam cientes dos riscos identificados, das ações de mitigação e das decisões estratégicas que possam impactar o produto.
A comunicação assertiva, transparência e inteligência emocional são soft skills que ajudam o PO a executar de forma mais assertiva o alinhamento de expectativas e obter apoio necessário para lidar com os desafios de maneira colaborativa.
Para garantir que as prioridades estão claras para todos, é importante usar ferramentas de gestão de backlog como: Jira, Trello, Redmine ou Asana. Essas práticas geram transparência e acessibilidade para que os envolvidos no produto possam acompanhar o progresso do desenvolvimento, de forma clara.
Conclusão
A mitigação de riscos na descoberta de produtos envolve garantir que os recursos e o tempo da equipe sejam investidos em soluções que realmente atendam às necessidades do mercado. Para o Product Owner, cada etapa será fundamental para reduzir incertezas sobre o que está sendo desenvolvido e tornar mais alinhado a solução proposta com as expectativas dos usuários. Aplicando as ferramentas e abordagens discutidas nesse artigo, você conseguirá aumentar as chances de sucesso do produto e minimizar o risco de falhas.